Sindicato Rural de Bela Vista MS

Estudo traz comparativo das práticas agrícolas de Brasil e Austrália

Os sistemas de produção dos fornecedores de cana-de-açúcar da Austrália e Brasil mostram diferenças significativas nos métodos de manejo dos canaviais, em razão, sobretudo, das diferenças climáticas entre os países.

Essa constatação faz parte da pesquisa da engenheira agrônoma Ariane Ludolf de Oliveira, desenvolvida em um programa de intercâmbio entre a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), a Universidade de Queensland e a Associação de produtores de cana-de-açúcar australiana (Canegrowers). Com objetivo de promover pesquisas e discussões sobre aspectos relevantes da produção sucroenergéticas no Brasil e Austrália de forma a produzir informações e formar profissionais para o setor de ambos dos países, o intercâmbio ocorreu a partir de iniciativa do Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (PECEGE) e Rex Consulting, com apoio do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (ESALQ-LOG).

Na prática, o estágio profissionalizante de Ariane foi realizado na cidade de Proserpine, na região central do estado de Queensland, principal estado produtor de cana-de-açúcar da Austrália, responsável por aproximadamente 95% da produção do país. Entre os meses de março e junho de 2010, ainda aluna do curso de Engenharia Agronômica da ESALQ, Ariane foi recepcionada produtores locais e, durante a permanência na Austrália, visitou produtores de cana-de-açúcar.

Durante as visitas, a pesquisadora descreveu as operações na produção de cana-de-açúcar e seus principais indicadores técnicos e econômicos. “No total foram realizadas quatro visitas a fazendas em Proserpine sendo que todas as diferentes práticas agrícolas e maquinários utilizados por fornecedores de cana-de-açúcar australianos foram descritos e comparados com as práticas e maquinários de fornecedores brasileiros”, aponta a pesquisadora. Questionários disponibilizados pelo Bureau of Sugar Experiment Stations (BSES) – e pelo PECEGE foram aplicados com produtores nas cidades de Proserpine, na Austrália e, no Brasil, nos municípios de Lençóis Paulista (SP) e Araçatuba (SP). “Dessa forma, foram listadas e comparadas as práticas de produção, doenças, operações agrícolas e insumos utilizados (nomes comerciais e taxas de aplicação) por produtores de ambos os países”, explica Ariane. O detalhamento dos aspectos econômicos foi realizado via aplicação do questionário de levantamento de custos de produção desenvolvido pelo PECEGE com o apoio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Esse questionário foi, aplicado com os produtores da associação de fornecedores de cana-de-açúcar de Piracicaba, cidade escolhida em função de possuir perfil de produtores semelhante ao de Proserpine.

Fronteiras agrícolas – Os sistemas de produção dos fornecedores de cana-de-açúcar da Austrália e Brasil mostraram diferenças significativas nos métodos de manejo dos canaviais, em razão, sobretudo, das diferenças climáticas entre os países. A Austrália, com território formado por diversas áreas impróprias para o cultivo de qualquer cultura, concentra toda sua produção de cana-de-açúcar na costa leste do país (litoral), e não possui novas áreas aptas para a expansão da produção de cana-de-açúcar. A existência de extremos pluviométricos durante o ano também prejudica a produção agrícola (toda chuva concentrada nos meses de verão e estação seca durante o restante do ano), tornando fundamental a utilização de sistemas de irrigação e drenagem dos canaviais. O Brasil, se comparado fisicamente com a Austrália, possui características excelentes para a produção de cana-de-açúcar, já que as necessidades da planta na maioria dos casos podem ser suprimidas sem intervenções humanas. Além disso, o país conta com grande fronteira agrícola para a expansão da cultura. “O período de safra australiano inicia-se na segunda quinzena de junho e alonga-se até o final de outubro, sendo, portanto, reduzido em relação à safra brasileira que no estado de São Paulo se estende de abril a novembro”, comenta a autora do trabalho.

Mecanização e produtividade – Outro fato marcante destacado sobre o sistema de produção canavieiro australiano foi a alta mecanização da produção de cana-de-açúcar quando comparada com as práticas dos fornecedores brasileiros. “Todas as etapas de plantio, manejo e colheita da matéria-prima são feitas mecanicamente. Isso se dá principalmente pela escassez de mão-de-obra no país e seu conseqüente alto custo de contratação. O alto custo de mão-de-obra na Austrália incentiva a ocorrência de funcionários fixos especializados responsáveis tanto por pelas operações produtivas como pelo gerenciamento e administração da propriedade”, aponta Ariane. Destaca-se no estudo a maior produtividade, assim como maiores preços e taxas de utilização de fertilizantes e defensivos na Austrália. “Os insumos utilizados no manejo da produção são análogos aos utilizados nos canaviais brasileiros, diferindo apenas quanto aos momentos e taxas de aplicação em conseqüência da diferença entre os tipos de solo e comportamento da água no sistema agrícola”. Na Austrália observou-se que operações mecanizadas envolvem o uso de tratores e implementos maiores e mais eficientes que os tipicamente utilizados no Brasil. As práticas no transporte de cana-de-açúcar também são bastante diferentes nos dois países. Além disso, na Austrália, em geral, a usina é responsável por todos os gastos de transporte da matéria-prima do campo a indústria. Além disso, é comum o uso do transporte ferroviário da cana até a unidade processadora. “O transporte por caminhão, no estado de Queensland, é pouco intensivo e atua no apoio ao transporte ferroviário. Dessa forma, os caminhões usados na Austrália são comparativamente menores e mais ágeis que os utilizados no Brasil, onde não existe o uso de transporte ferroviário de cana-de-açúcar e caminhões – contratados pelas usinas e pagos pelos fornecedores – são utilizados para transporte de cana em distância média de 25 km”, explica.

Desafios – De acordo com a pesquisa, a realidade dos fornecedores australianos é caracterizada por extremos climáticos e carência de mão-de-obra. “O desenvolvimento da produção de cana na Austrália está fundamentado nas competências locais para o desenvolvimento de pesquisa e tecnologia”. Para o Brasil, continua Ariane, “o desafio dos fornecedores é seguir os bons exemplos australianos na mecanização das atividades agrícolas, técnicas de gerenciamento e pesquisa de forma a aumentar a produtividade, reduzir custos e vencer os desafios na contratação e treinamento de novos trabalhadores e preservação do meio-ambiente”. Com relação aos resultados econômicos, o trabalho destacou similaridade no nível de competitividade da produção de cana-de-açúcar por fornecedores de Proserpine e Piracicaba. “Entretanto, em Proserpine os produtores contam com benefício de não arcar com o transporte da matéria-prima”, conclui Ariane.

Fonte: Assessoria de Comunicação USP