Sindicato Rural de Bela Vista MS

Greve dos caminhoneiros causou inflação nos preços dos alimentos

Transporte de frutas, legumes, leite e carnes foram os mais prejudicados pela paralisação

Altamente dependente do transporte rodoviário, o agronegócio contabilizou prejuízos em diversas regiões do país com a greve dos caminhoneiros que terminou terça-feira (30/7) após uma reunião, em Brasília, entre o Movimento União Brasil Caminhoneiro, o ministro dos Transportes, Paulo Passos, e representantes do governo. Em ata divulgada após o encontro, os líderes dos caminhoneiros comprometem-se “com a completa suspensão do movimento”. Em troca, o governo instalará uma mesa de negociação na próxima semana para discutir as reivindicações da categoria.

Os caminhoneiros não concordam com alguns trechos da lei federal 12.619, publicada no último dia 30 de abril e que entrou em vigor na segunda-feira (30/7). A lei regulamenta a jornada de trabalho da categoria e obriga, entre outras coisas, o trabalhador a ter descanso de 11 horas entre duas jornadas. A paralisação, que durou uma semana, provocou bloqueios em estradas do país e afetou a distribuição de alimentos em todo o território nacional.

O galpão da Ceasa no Rio de Janeiro, por exemplo, ficou praticamente vazio. Na madrugada de segunda (30/7) deveriam chegar ao posto seis caminhões de São Paulo, carregados com laranja, limão e abacate, mas os motoristas ficaram parados em Barra Mansa, no Sul do Fluminense. Como reflexo da escassez de produtos, os preços dos itens que ainda restavam na Ceagesp subiram drasticamente. A caixa de laranja de 40,8 quilos que na semana passada custava R$ 14 subiu para R$ 25 no início desta semana. O saco de batata de 60 quilos saltou de R$ 40 para R$ 100 no mesmo período. Na terça-feira, 90% do fornecimento do Ceagesp estava comprometido. Com a regularização do abastecimento na manhã desta quarta-feira (01/08) os preços voltaram a ceder.

As entregas de grãos da Cooperativa dos Agricultores de Plantio Direto (Cooplantio), do Rio Grande do Sul, também foram afetadas. Segundo o coordenador de logística de alimentos da entidade, Luciano Lopes, Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo e Amazonas foram os estados em que a cooperativa encontrou maiores dificuldades em transitar com as mercadorias. “A gente até conseguiu carregar os caminhões, mas a entrega é que não estava acontecendo. Os caminhões ficaram parados nas barreiras. Entre 60% a 70% das nossas cargas ficaram paradas na semana passada e na terça (31/7) ficamos com mais de 70% de paralisação das cargas”, afirma.

Para tentar amenizar a situação, Lopes diz que a cooperativa manteve os clientes atualizados sobre as cargas e os problemas enfrentados ao longo do percurso constantemente. “A gente tentou contornar as coisas, deixando os clientes bem a par da situação”.

No Centro de Abastecimento de Santa Catarina (Ceasa), a caixa de tomate, em geral comercializada a R$ 50, bateu R$ 110. O preço ainda não voltou ao normal. Nesta quarta-feira (1º/8) a caixa do fruto, que na época de inverno vem de Roraima, São Paulo, Goiás e Mato Grosso, ainda era cotada em alta (entre R$ 80 a R$ 95). Em Santa Catarina, o preço da batata inglesa também dobrou durante a manifestação dos caminhoneiros. De cerca de R$ 25, a saca de 60 quilos chegou a ser vendida por R$ 60. Segundo os comerciantes, a falta de produtos não intimidou o mercado a cobrar quanto queriam pelo produto.

Além disso, empresas associadas da União Brasileira de Avicultura (Ubabef) relataram problemas com o abastecimento de ração para a criação de frangos. Um descompasso nesse fornecimento é extremamente prejudicial para a produção da proteína animal. Outro problema grave foi o transporte de animais vivos, como o de pintos de um dia, para as regiões produtoras e de aves vivas para as agroindústrias. Outra entidade, a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) também sentiu os reflexos da greve no abastecimento da indústria. “Somente no Paraná foram mais de dez pontos com bloqueios impedindo o tráfego de caminhões. Os piquetes impediram o tráfego de caminhões de todos os tipos de cargas, incluindo animais vivos”, afirmou em nota o presidente da Abrafrigo, Péricles Salazar.

Já a Cooperativa Batavo não sofreu tanto para fazer a entrega de commodities (soja e milho) por falta de estoques, mas enfrentou dificuldades com a captação do leite nas propriedades em quase dez municípios vizinhos a Ponta Grossa, no Paraná. A maior preocupação era que os caminhoneiros continuassem com o bloqueio das rodovias. “Fazemos a captação diariamente nas propriedades e encontramos algumas barreiras, embora não tenham chegado a causar grandes problemas porque buscamos rotas alternativas. Nossa preocupação era se a greve persistisse por mais alguns dias. Aí teríamos dificuldades porque o leite é muito perecível”, afirma o gerente geral da cooperativa, Antônio Carlos Campos.

Fonte: Globo Rural On Line