Sindicato Rural de Bela Vista MS

Estudos buscam melhorar eficiência alimentar de bovinos de corte

Apesar de possuir o maior rebanho comercial do mundo e ser o maior exportador de carne bovina, o Brasil ainda não lidera pesquisas relacionadas ao melhoramento genético de bovinos de corte para eficiência alimentar e consequentemente, os impactos da seleção para eficiência sobre composição corporal e qualidade de carne de novilhos Nelore são pouco conhecidos. O Laboratório de Nutrição e Crescimento Animal, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), coordenado pelo Dante Pazzanese Lanna, do Departamento de Zootecnia (LZT), é pioneiro nesta linha de pesquisa no país e vem se dedicando aos estudos acerca de eficiência alimentar de bovinos de corte há mais de uma década.

Os primeiros resultados obtidos nas avaliações de eficiência alimentar e composição corporal em novilhos da raça Nelore apontaram que animais mais eficientes apresentavam carcaças mais magras. A necessidade de melhor caracterizar a composição das carcaças e qualidade da carne oriunda de animais Nelore selecionados para eficiência motivou novas pesquisas, que deram origem às teses de Michele Lopes do Nascimento e Andréa Roberto Duarte Lopes Souza, ambas orientadas pelo professor Dante. Os ensaios realizados pelas alunas fazem parte do projeto “Estratégias genéticas para melhoria da eficiência de produção e da qualidade da carne bovina no Brasil”, resultado de uma cooperação entre ESALQ/Embrapa/Unicamp/Unesp, entre outras instituições, que tem como objetivo avaliar a variação genética aditiva e identificar genes e marcadores moleculares associados às características de qualidade da carne e eficiência alimentar em 800 animais filhos de 32 touros da raça Nelore.

Entre os diversos índices de eficiência alimentar, o consumo alimentar residual (CAR) tem sido o mais estudado e o mais discutido como critério de seleção. Programas de melhoramento genético de bovinos de corte de países como Austrália, Canadá e Estados Unidos e mais recentemente o Brasil tem considerado o seu uso. Porém, as duas teses recém defendidas na ESALQ demonstraram que os animais mais eficientes quanto ao CAR possuem menor deposição de gordura no ganho de peso, particularmente de cobertura da carcaça e marmorização da carne. Isto indica que a seleção genética dos animais por este índice de eficiência pode ter impactos negativos sobre a qualidade da carne. “Considerando a associação geralmente positiva entre deposição de gordura corporal e fertilidade, não se pode desconsiderar que a seleção para CAR pode resultar em diminuição da eficiência reprodutiva das vacas”, comentam as pesquisadoras.

Os resultados das duas teses sugerem que 30% da variação observada para este índice de eficiência (especificamente o CAR) são explicados pela produção de carne mais magra. Melhorar a eficiência do rebanho é muito importante para reduzir o custo de produção e impacto ambiental da atividade, mas se houver prejuízo na qualidade e aceitação da carne pelos consumidores isto se torna muito perigoso. “Há no mercado carnes mais baratas que a bovina, cujo nicho é baseado em qualidade diferenciada. A garantia da qualidade da carne (maciez, suculência e sabor principalmente) é uma importante estratégia de competição.

Competir apenas pela eficiência pode não ser a forma mais interessante para os produtores de carne bovina”, reforça o orientador dos trabalhos. O professor Dante lembra que ainda se houver uma redução da fertilidade então é certa a necessidade encontrar outro parâmetro para selecionar os animais para eficiência que não o CAR. “Outra conclusão importante destas duas teses é que seria possível desenvolver duas linhagens genéticas distintas. Uma para produção de carne de qualidade e outra para produção de carne de forma mais eficiente, que seria mais magra. A linhagem genética de carne magra não poderia ser utilizada para produção de fêmeas de reposição no rebanho”, finaliza Pazzanese Lanna.

Fonte: Agrolink