Sindicato Rural de Bela Vista MS

Soja convencional resgata o seu mercado

Produtores do Mato Grosso obtem lucro nas exportações para Europa e Ásia do grão não-transgênico

As tradicionais variedades de soja ainda estão presentes no campo, mas já não são mais semeadas como no passado. Cerca de 18 delas precisaram contar com a proteção do Programa Soja Livre, criado pela Embrapa no final do ano passado, em parcerias com pesquisadores, produtores, fábricas de sementes e agroindústrias. O interesse de todos está na preservação destas cultivares que transformaram o país em grande produtor e se mantiveram distantes da transgenia. A opção pelo cultivo de sementes não-transgênicastem se mostrado um bom negócio, em especial para a exportação.

Países europeus e asiáticos compraram 5 milhões de toneladas do grão (18% do total de vendas externas) e 6,5 milhões de toneladas de farelo de soja em 2010. “Um nicho de mercado criado em decorrência da exigência destes consumidores”, explica Rodrigo Brogin, pesquisador da Embrapa Soja, no Paraná.

O Brasil é o principal fornecedor mundial do produto especialmente no Mato Grosso, responsável por manter 35% destas lavouras nos 24 milhões de hectares plantados. Por isso, os sojicultores do estado reivindicam maior oferta de sementes tradicionais para a região. É assim que eles conseguem conservar este material que tem custo de produção menor.

A Associação Brasileira de Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados (Abrange) fez as contas com base nos dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agrícola (IMEA), e concluiu que o custo médio do grão convencional na última safra foi de R$ 366 por hectare, desembolso 14,68% inferior aos R$ 429 por hectare do geneticamente modificado. Os sojicultores também não têm gasto com royalties (R$ 0,44 por quilo de semente) pagos à empresa que dispõe a tecnologia. Nos Estados Unidos, o custo é de U$ 1,30.

No entanto, o diretor técnico Ivan Domingos Paghi alerta que não basta semear lavouras tradicionais para garantir a venda diferenciada. “O produtor precisa zelar desde a hora que planta até a colheita e o armazenamento”, diz. O processo inclui a limpeza de peças específicas de plantadeiras, colheitadeiras, estocagem de grãos em galpão seguro e acima de tudo colher sempre primeiro as lavouras tradicionais e depois as geneticamente modificadas, que devem ser separadas por uma barreira formada por vegetação ou talhões de 20 metros. É comum que o mesmo agricultor realize os dois tipos de cultivo em sua propriedade.

Pelos padrões internacionais, a contaminação de um lote não pode passar de 0,1%. Se houver um grão de milho ou soja geneticamente modificada em mil convencionais, a carga deixa de ser considerada não transgênica, comprometendo a venda. Mas se tudo correr bem, o produtor receberá entre R$2 e R$5 a mais pelo preço da saca.

Preservação

Para a Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), o “prêmio” garante competitividade ao grão tradicional que precisa ser preservado por razão de mercado. O pesquisador Rodrigo Brogin, da Embrapa Soja, informa que o Programa Soja Livre pode ser estendido para outros estados, caso haja interesse dos agricultores. Segundo ele, o controle das lavouras e das colheitas é trabalhoso, mas não requer a aplicação de tecnologias. Além do mais, a soja se autofecunda e por isso não há riscos de contaminação durante a polinização como acontece com o milho.

Recentes pesquisas apontaram que a barreira de 100 metros exigida não é suficiente para evitar a contaminação entre as lavouras. Segundo a Embrapa Milho e Sorgo, em Minas Gerais, cerca de 55% dos cultivos no país já são geneticamente modificados. “Seria importante criar para o milho um programa semelhante ao da soja. Precisamos das sementes convencionais para atender quem faz a escolha por elas”, alerta a pesquisadora Simone Martins Mendes.

O Brasil é o país onde o cultivo de lavouras transgênicas mais avança no mundo, conforme relatório anual do Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (Isaaa, na sigla em inglês). Em 2010 foram plantados 25,4 milhões de hectares de soja, milho e algodão, aumento de 19% (4 milhões de hectares), em relação a 2009. A área total equivale ao estado do Piauí. O resultado levou as plantações nacionais a manterem a segunda posição no ranking mundial dos 29 países que adotam as culturas geneticamente modificadas, atrás apenas dos Estados Unidos, com 66,8 milhões de hectares.

Fonte: Globo Rural On line