Para especialistas, movimento vai além da produção de alimentos e estabelece laços culturais e sociais
Com o conceito que vai além da forma de cultivar alimentos e consumi-los, a agroecologia vem ganhando cada vez mais espaço. Com o objetivo ampliar a interação da natureza e o homem, a ciência, ainda em expansão, pretende revolucionar a produção de alimentos.
De acordo com reportagem da Agência EFE, agricultura ecológica e agroecologia são dois conceitos diferentes. Enquanto a primeira se refere ao cultivo de produtos procedentes do campo sem o uso de tóxicos, que não só contaminam o ambiente, mas carecem das propriedades alimentares que em sua origem possuem esses alimentos, a agroecologia é uma forma de vida para seus praticantes.
Para Juan Felipe Carrasco, responsável de Agricultura e Alimentação do Greenpeace, a agricultura ecológica “não só produz alimentos, mas também bens e serviços agrícolas que mudam completamente o paradigma do modelo de agricultura industrial que consome petróleo, plásticos, e que contamina e destrói o solo porque é a agricultura baseada em máquinas e não em pessoas”.
Vantagens
O ativista cita três razões para defender a agricultura ecológica. Para ele, uma delas é a diferença fundamental entre a agricultura convencional e a ecológica é que na segunda não se contempla o uso de substâncias tóxicas ou químicos sintéticos, salvo alguns que estão autorizados porque sua toxicidade é praticamente nula.
Em segundo lugar, afirma o Carrasco, a fertilização na agricultura ecológica é baseada nos equilíbrios naturais, onde as plantas são alimentadas porque o solo está vivo. “O solo tem uma série de seres vivos que reciclam os restos das colheitas anteriores ou captam gases da atmosfera para poder distribuí-los entre as plantas. Definitivamente, tudo o que pode oferecer um subsolo vivo. Na agricultura industrial, os produtos químicos e adubos industriais que provêm do petróleo matam tudo o que há de vida no solo. Quando estes produtos deixam de ser jogados no campo, este já não pode produzir nada”, acredita o ecologista.
A terceira característica da agricultura ecológica tem a ver com a energia. Como explica o responsável do Greenpeace, “a agricultura ecológica quase não tem consumo energético procedente do petróleo, por isso que é muito pouco geradora de mudança climática. Ao contrário da agricultura industrial que se calcula que em nível planetário produza grande parte dos gases do efeito estufa, entre outras causas por causa de seu consumo de petróleo”.
Tradição
Para os praticantes da agroecologia, o conceito vai muito além da atividade agrícola, e tenta envolver o ser humano com a natureza, dessa maneira que a produção agrícola faça parte intrínseca com o entorno social e cultural dos indivíduos.
Carrasco ressalta que “é um movimento ideológico e político, onde o papel das pessoas é muito importante. A agroecologia tenta conservar as redes sociais que mantiveram o campo vivo há milhares de anos e que desde a chegada da revolução industrial está desaparecendo”, afirma Carrasco.
Segundo o ambientalista, “as cidades são enormes consumidores de recursos e geradores de resíduos. No entanto, a população rural tem um papel muito mais sustentável enquanto vive apegada ao território. Por isso, é muito importante tudo o que tem a ver com a propriedade da terra e é fundamental a devolução da propriedade para quem a trabalha, a divisão da renda agrária e as subvenções políticas às pessoas que estão produzindo não somente alimentos, mas bens e serviços paisagísticos e ambientais”.
Os ecologistas acreditam que o modelo está tornando a vida rural atrativa novamente.