Apesar da alta nos envios ao exterior, o preço pago ao produtor rural se manteve estagnado em R$ 260 a arroba
RODRIGO ALMEIDA – Correio do Estado
A indústria de carnes para exportação de Mato Grosso do Sul recebeu US$ 932,177 milhões de janeiro a setembro deste ano. A alta no valor recebido é de 27,51% em comparação com o mesmo período de 2021, quando frigoríficos do Estado exportaram US$ 731,067 milhões.
Os dados são do relatório de exportação da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro).
Em volume, neste ano, 199.508 toneladas de carne de bovinos e outros produtos de carne foram enviados a países estrangeiros. O montante representa 15,67% a mais do que as 172.474 toneladas de 2021.
Com o preço da arroba em média a R$ 264,73 neste mês de outubro, houve queda na cotação comparada com o mesmo mês do ano passado. Segundo dados a Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), o boi gordo era comercializado a R$ 271,73 a arroba, retração de 2,57%.
Segundo a CEO da consultoria de pecuária Agrifatto, Lygia Pimentel, o mês de novembro pode dar um pequeno alívio para o pecuarista sul-mato-grossense. “Pensando no longo prazo, os preços [da arroba] devem continuar com margens espremidas até 2024”, avalia.
Já no mercado futuro, os preços praticados nos contratos deste mês estão sendo fechados a R$ 297,25 a arroba. Para o mês de novembro, R$ 294,4, dezembro é negociado a R$ 299,00 e janeiro de 2023 a arroba paga é de R$ 299,15.
Para Pimentel, uma boa forma de evitar perdas e garantir médias melhores é fazer a compra de contratos futuros de parte do rebanho, travando assim o preço da arroba em momentos de baixa como o atual.
A dinâmica funciona como um colchão. Caso o preço da arroba caia bastante, o pecuarista tem parte da produção com preço garantido de venda acima do praticado pelo mercado.
Para o economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Corguinho e Rochedo (SRCG), Staney Barbosa Melo, vários fatores influenciam o preço da arroba paga ao produtor. “O ciclo pecuário, sazonalidade climática, custos de cria, recria e engorda, progresso tecnológico, escalas de abate, entre outros, influenciando também o equilíbrio de oferta e demanda e, consequentemente, afetando a relação que o produtor rural tem com os demais elos da cadeia produtiva”.
VARIÁVEIS
O economista diz que no mercado agropecuário o que dita as oscilações de preço são essencialmente as condições de oferta e demanda. “Faz alguns meses que a arroba do boi gordo apresentou tendência de queda e, na sequência, estabilizou-se com algumas quedas pontuais na casa dos R$ 260 por arroba”, comenta Melo.
Para ele, diversos fatores internos e externos ajudam a entender essa queda, que colocou os preços da arroba nos mesmos patamares de outubro de 2021.
“Um primeiro fator é interno e reflete a perda do poder de compra dos consumidores brasileiros, forçando-os a buscar outras fontes de proteína para suprir suas necessidades energéticas, como frangos, peixes e outras carnes”, elabora.
Com a inflação atingindo pico de 12,85% nos 12 meses anteriores em abril deste ano, a capacidade de manter o consumo de certos produtos ficou comprometida.
Outro ponto que explica isso é a falta de aumento real na média salarial da população. Conforme o IBGE, a média dos vencimentos no Brasil atingiu R$ 2.713 no trimestre encerrado em agosto. Na comparação com o mesmo período de 2020, a queda é de 10%. Naquele trimestre, o salário médio no Brasil era medido em R$ 3.017.
“Com essa perda no poder de compra, novas relações de mercado se materializaram, e a indústria, por conta do câmbio, encontrou no mercado externo oportunidades e condições melhores para tocar seus negócios, passando a fornecer ao exterior o excedente de carnes que o mercado interno não conseguiu absorver, levando a um aumento das exportações”, arremata Melo.
Presidente da Associação Nacional de Pecuária Intensiva (Assocon), Maurício Velloso comenta que há um monopólio da indústria frigorífica, o que facilita a interferência nos preços.
“Entre as estratégias, há fechamento de indústrias. Com isso, elas acabam conseguindo enxugar os números de compradores, e muitas regiões ficam carentes de agentes, sem falar que isso cria uma escala mais confortável para eles e causam forte desestímulo aos confinadores”.
BALANÇA COMERCIAL
Com as exportações de produtos em alta em Mato Grosso do Sul no mês de setembro, a balança comercial do Estado, movida por soja, celulose e carne bovina, demonstra evolução em relação a 2021.
De janeiro a setembro, MS registrou superavit de US$ 3,705 bilhões, valor 3,31% superior ao mesmo período do ano passado. Foram US$ 6.273.117 em exportações nestes primeiros sete meses, ante US$ 2.567.313 em importações.
A soja em grão lidera com 30,87% da cesta em valores, apesar de ter tido uma diminuição de 5,93% em relação ao mesmo período do ano passado.
O segundo maior produto foi a celulose, com 17,46% da pauta.
Em seguida, aparecem carnes de bovinos, óleos e gorduras vegetais e animais, responsáveis por 14,86% da pauta.
US$ 932 milhões negociados
De janeiro a setembro deste ano, foram negociados US$ 932,177 milhões com o mercado externo, alta de 27,51%.